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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Entrevista para o site noite ponto som ...

http://noitepontosom.blogspot.com/2008/08/entrevista-da-semana-vida-guitarras.html
Toc toc........ Bato duas vezes. Ninguém atende. Repentinamente à porta abre e aparece à secretaria, que cuida da criança da casa convidando para entrar no ambiente. Neste momento, sou recebido com um sorriso floral: a esposa Thais, vocalista da banda Makueto fala: “Oi Neri, chega aí”. Então, com as honras da casa, entro pelo corredor, na esquerda da sala tem mais uma pessoa: o cantor e dançarino Edy Lessa, brincando com um bebê recém nascido em seu colo. Na minha frente está um homem sentado com o rosto voltado para o computador. Quando levanto à palavra, o mesmo, que parecia concentrado no que fazia vira-se com um olhar sereno e diz: “E aí meu velho, tudo bem?” Então o gelo quebra. Realmente, estou na casa de um músico, já que o material de trabalho: cabos, guitarras, pedaleiras, amplificadores estão espalhados por todos os cantos da sala. Seu nome? Carmilton Mamede, porém poucas pessoas o conhecem pela alcunha de batismo, mas pelo codinome Ximbinha. “Foi dado por meu pai desde que me conheço por gente”, vai logo esclarecendo o músico. Pesquisador intenso de timbre de guitarras comenta que estudou música ainda na infância nos cursos de musicalização, da Ucsal, já adulto com título em música batalha muito na profissão. Gravou com alguns nomes da música baiana, além disso, vai soltando pérolas como: “Santana só precisa tocar dois ou três acordes para ser reconhecido”. Confira à entrevista exclusiva cedida, ao blog Noite Ponto Som, que foi realizada numa tarde chuvosa de agosto (18).

NPS - Noite Ponto Som - Como surgiu seu interesse em seguir a carreira de músico?

Ximbinha Mamede - Venho de uma família que têm muitos músicos e artistas. Meu pai trabalhou em rádio assobiando no Rio de Janeiro, ele também tocou caixas de fósforos em alguns grupos de Choro. Com os primos da minha geração Fred Barreto (guitarrista de blues) e Duda Araújo (baixista da banda Stância) formamos a primeira banda de rock, neste período toquei músicas de grupos estrangeiros das décadas de 60 e 70. Época que tive várias influências como Jimi Hendrix, Pink Floyd, Janis Joplin..... Toquei também com alguns grupos de heavy metal e fiz parte da formação da banda de black metal, Carnifield. Um dos grandes inspiradores dessa jornada musical foi um primo, que não é músico, mas artista plástico Marcelo Gato.NPS - Nesta época era só diversão, ou já dava para ganhar algum dinheiro tocando com bandas?Ximbinha Mamede - Pagávamos para tocar era só amor pela música. Entretanto, cheguei num momento em que precisei melhorar o meu equipamento, já não dava para ficar dependendo somente dos meus pais, até porque instrumento musical no Brasil é muito caro. Então, passei para o lado comercial da música da Bahia, que no caso é o axé. Comecei depois dessa fase “metal”, a tocar em grupos do gênero e fiz parte da extinta banda Reflexus, conhecida por fazer sucesso com músicas como Senegal e Madagascar. Assim pude viajar e conhecer outros Estados através da música. Dessa forma, comecei a ganhar dinheiro e tornei músico profissional.

NPS - Vamos conversar sobre um assunto que você lida no dia-a-dia: ser músico de estúdio. Quais são as suas prioridades neste local?

Ximbinha Mamede - O timbre. A timbragem de guitarra é algo muito particular e pessoal em cada músico. Alguns músicos como Santana e Jimi Hendrix são identificados por causa do som que conseguiram formatar, ou seja, tocam apenas duas ou três notas e são reconhecidos. Essa busca pela identidade é a minha prioridade, e surgiu desde quando comecei a tocar. Já troquei de guitarra muitas vezes para achar o meu timbre. Continuo testando vários tipos de captadores, madeiras, potenciômetros e pontes, pois acredito que isso ajuda a descobrir novos e melhores sons.

NPS - Tem preferências por guitarras quando vai gravar com outros artistas? Que equipamentos usa para a labuta, atualmente?

Ximbinha Mamede - Atualmente, o meu equipamento de trabalho são duas guitarras Fender. Uma modelo stand, cor sunburst, com captação di marzio HS3 na ponte e di marzio HS4 no meio e no braço do instrumento, porque tem um timbre cristalino e satura com facilidade. Além disso, o seu som é similar ao do guitarrista Yngwie Malmsteen, (músico conhecido por sua incrível velocidade). A outra guitarra é uma Fender ressue, 1962, japonesa com o corpo em basswood. Nessa utilizo uma captação nova da di marzio chamada aria 58, no meio e no braço. Na ponte uso um captador bastante interessante denominado de JBJúnior. Ele tem a sonoridade das antigas guitarras Les Paul. Então são dois instrumentos bastante versáteis. Além disso, tenho ainda uma que só utilizo em gravações especiais, que é uma Ibanez, modelo blazer, série 1969, com o corpo em ash e braço em maple. Troco sempre à captação desse instrumento e, atualmente, seu captador é o bridge, no meio do braço. Além dessas, possuo uma Washburn, modelo N2 com corpo em alder e braço em maple. A escala desse, instrumento é de jacarandá com captação tone zone na ponte e um captador super distorcion ligado em paralelo. Esse tipo de ligação ainda não é utilizado por muitas pessoas. Acho interessante que outros guitarristas experimentem ligações alternativas nos seus instrumentos, pois podem encontrar novos timbres. Sou fã das guitarras modelo stratocaster.

NPS - Fale um pouco sobre sua prioridade na hora de tocar?

Ximbinha Mamede - Quando utilizo o bend (técnica de tocar que altera a freqüência natural de uma nota possibilitando a execução de outras) me preocupo muito com a afinação, porque, qualquer alternância desafina. Acredito que soa melhor com cordas mais pesadas, tipo 0,11, (grossura do encordamento) agora é mais desconfortável para tocar. Quando faço um trabalho de jazz ou blues sempre utilizo encordamento pesado, mas quando gravo algo tipo, axé, reggae, soul ou funk, uso cordas 0,09.

NPS - Com relação ao controle sobre o bend. Você tem necessidade de abafar às cordas ao executar a técnica?

Ximbinha Mamede - Sim. Normalmente abafo todas as cordas que não estou utilizado, por exemplo, se vou dá um bend na terceira corda abafo todas as outras para que o som não soe sujo. Isso não é só no bend, mas na técnica de vibrato também.

NPS - E quanto à técnica de tapping? Em que proporção utiliza?

Ximbinha Mamede - O tapping (bater com as pontas dos dedos nas cordas) é um tipo de prática comum no heavy metal. Quando se pensa nessa técnica fala-se logo no nome do guitarrista Eddie Van Halen, mas ao ouvir gravações antigas de guitarristas, como Jeff Beck percebe-se que naquela ocasião, ele já usava a técnica. Executo o tapping de forma discreta, como um artifício a mais para passar uma mensagem com meu instrumento.

NPS - Como anda sua vida musical no exterior? Está tocando com algum músico estrangeiro?

Ximbinha Mamede - Desde 2002 toco com artistas estrangeiros. Acompanhei vários músicos africanos que vieram ao Brasil. Toquei com o cantor Angolano Bonga, Filipe Mukenga e, um grupo de Nova York, chamado África Yetu. Recentemente, o cantor Angolano Yuri da Cunha, me convidou para acompanhá-lo no programa Altas Horas, surgindo um convite para tocar em Angola. No ano passado, recebi uma proposta do compositor e produtor mexicano Carlos Macias, para tocar com o cantor Juno Marionne.

NPS - E suas atividades no ramo da direção artística. Quais discos têm produzido ultimamente?

Ximbinha Mamede - Gravei um disco de Tonho Matéria, também fiz a direção musical da banda de Márcia Freire, dirigindo e arranjando algumas músicas da artista. Produzir o disco da banda de axé Makueto, de um cantor que não estourou ainda, mas que sou fã de carteirinha chamado Josehr Santos, muito conhecido por ser Jesus Cristo do Dique, ele é um tenor de voz forte. Além disso, produzir o disco do cantor baiano Edy Lessa, que segue também na praia do axé. E co-produzir uma banda que toca músicas de Santana, chamada Zamaga. Além de realizar single e jingle para políticos e com fins comerciais.

NPS - Sobre seu estúdio particular, quais equipamentos o compõem?

Ximbinha Mamede - Utilizo um PC com bastante espaço tanto de memória quanto de HD. Além disso, uso o nuendo, (programa de gravação), pois é fácil para trabalhar e edita tanto áudio como imagens. Atualmente, estou com uma placa de som M-áudio, e microfones similares aos SM 57 e 58 da Shure. Uso um processador de efeitos boss, que é GT6 e uma caixa amplificada, da marca Hughes Kettner. Utilizo também plugs in tecnológicos e alguns efeitos como o compressor, noise gates, reverber , tudo como simulação.

NPS - Em sua opinião, o que não pode faltar num estúdio de gravação?

Ximbinha Mamede - Material humano qualificado. O homem nunca será substituído pela máquina. A máquina é apenas um recurso usado pelos profissionais da área.

NPS - Qual o seu software?

Ximbinha Mamede - Utilizo o reason, que é um programa muito bom para montar as trilhas de áudio. Tenho também um programa interessante que é acoustica beatcraft, que serve para montar trilhas inteira de bateria e percussão.

NPS -Conta com auxilio de algum técnico em seu estúdio?

Ximbinha Mamede - Não, porque, apenas faço o registro sonoro, depois levo para um técnico masterizar e mixar, ou seja, cada macaco no seu galho.

NPS - Como guitarrista, tem alguma técnica especial para gravar seu instrumento?

Ximbinha Mamede - Normalmente, gosto de gravar cada guitarra utilizando dois canais. Um passando pelo direct box levando o som direto para a placa de áudio. Já o outro canal microfono a caixa com um Sure SM 57, utilizando uma distância de seis centímetros do cone do auto-falante para captar os picos graves. É a minha forma de gravar, esse é o meu som.

NPS - E para a guitarra e baixo, quando solicitam que você grave. O processo é mesmo?

Ximbinha Mamede - Geralmente, converso com o cliente sobre as possibilidades, preferências e opções de gravação. Também sugiro algumas dicas, mas quando gravo contrabaixo, por exemplo, uso um compressor ligado direito em linha. Já dá para tirar um apropriado som, se o instrumento em si tiver um bom timbre.

NPS - Que dica recomenda para alguém que queira aprender um pouco mais sobre áudio?Ximbinha Mamede - É legal que a pessoa procure um estúdio ou peça ajuda para àqueles que conhecem sobre o assunto. É valido também tomar um curso com um profissional que esteja atuando na área. Além disso, trabalhar em algum estúdio é fundamental, isso é um ótimo aprendizado. Não só para quem quer se envolver com áudio, mas para qualquer área, pois é necessário vivenciar para aprender.

Postado por Nerivaldo Góes às 08:06 4 comentários

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